História
A Estrada Nacional nº2 (EN 2), com tal nome, só existe desde 1944 e com a extensão que se conhece desde a década de 70.
A EN 2 surge da fusão de algumas estradas do tempo da monarquia, as denominadas estradas reais, outras com outra classificação e troços já da época da república.
Após uma pesquisa cuidada e morosa pela documentação disponível, evidenciamos o seguinte:
Em 1843 surge em Diário do Governo o primeiro mapa de estradas portuguesas com o egocentrismo da capital bem patente (um pouco como acontece na actualidade democrática) dado que todas as estradas principais tinham origem em Lisboa.
No ano de 1862, uma nova rede é aprovada no reinado de Dom Luiz “…Fazemos saber a todos os nossos súbditos, que as côrtes geraes decretaram e nós queremos a Lei seguinte: Artigo 1º As estradas ordinárias do continente do reino são classificadas em:.. estradas reais… e distritais”. É parecido como agora, não é?
Em 1889, surgiu uma nova esquematização das estradas da monarquia e melhor estruturada. A EN 2 não existia, mas sim alguns troços com outros nomes, tais como a Estrada Real 5, 7, 17 e 73, a Estrada Distrital 120 e a Estrada Distrital 188, entre outras.
Em 1913, com a implantação da República as mesmas estradas foram renomeadas a Estradas Nacionais 1ª e 2ª Classe e Estradas Municipais.
Com a República, determinados troços tiveram diversas designações, por exemplo: EN 5 (Chaves-Vila Real), EN 7 (Lamego-Régua) e EN 23 (S.B.Alportel-Faro) entre outras situações.
Ao longo do tempo foram-se construindo estradas em resposta ao que se ia legislando.
Em 1926, parte do que é agora EN 2, passou a ter designação de EN 7 entre Lamego e Chaves, do traçado completo S.Pedro do Sul-Chaves, um outro exemplo, EN 19- 1ª classe (Ferreira do Alentejo-Faro, do traçado completo Cacilhas-Faro), EN 62- 2ª classe (Vila de Rei a próximo de Sardoal do trajecto completo F. Zêzere a Sardoal) e EN 86- 2ª entre Montargil e Alcaçovas do traçado completo Portão de Braga-Alcaçovas.
Uma nova reclassificação surgiu, em 1929, em algumas estradas na sequência de obras e opções governamentais, como exemplo, EN 62- 2ª (Vila de Rei a Sardoal do trajecto completo F. Zêzere a Sardoal), EN 49- 2ª (Santa Comba Dão-Viseu) e EN 86- 2ª (Montargil-Torrão).
Como nasce a EN 2?
O projecto de estradas reestruturadas que aproximassem as pessoas e dessem respostas às necessidades económicas surgiu em 1944 e foi consolidado em 1945, no plano rodoviário nacional, com visão estratégica e estruturante dos governantes da época :
O propósito do lesgislador era claro e determinado:
Com estes objectivos definidos o PRN 1945 é aprovado.
Assim, considerado como itinerário principal, surge definitivamente a Estrada Nacional 2 (EN 2) por aglutinação de várias estradas nacionais, referidas anteriormente, e como a maior estrada nacional que “rasga” o país, grosso modo, a meio e longitudinalmente colocando uma significativa parte do traçado equidistante do litoral e interior.
Interessante visão!
Assim se pôs mãos à obra com dificuldades financeiras e tecnológicas rasgando montes e montanhas para dar corpo ao projecto do plano rodoviário de 1945.
Foi feita a classificação das estradas em nacionais ( três classes) e municipais usando-se a codificação de cores para as bases dos marcos (demarcações) hectométricos, quilométricos, miriamétricos da seguinte forma:
Dos 739 Km, só 6 troços foram classificados de rede complementar tudo o resto foi devidamente desclassificado.
Verdadeiramente, reflectiu-se num abandono do interior central com repercussões negativas para a EN 2, retirando-a de itinerário principal, bem como fragmentação do traçado, desclassificação de troços, desinvestimento e aposta em outras vias rodoviárias que asfixiam a razão de ser da maior estrada nacional.
Como se não bastava o que foi feito na EN 2, em 1985, um rude golpe foi cometido em 1998 com o PRN 2000, relegando-a para um plano bastante secundarizado acentuando-se mais ainda os erros iniciados em 1985 e condicionando o estado degradado em que se encontra uma significativa parte do traçado.
Esta codificação manteve-se presente até ao PRN 1985 e foi-se alterando os existentes faseadamente ao longo do tempo até ao ano 1998.
Quarenta anos depois, em 1985, reformulou-se a classificação com base num novo pensamento progressista estruturado em que se apregoa a interioridade, a coesão social, cultural e territorial.
Com esta "machadada" restaram 4 troços de Estrada Nacional 2, sendo as I.Ps consideradas como EN2 (ver quadro acima).
É notória a ausência do troço Chaves- Santa Marta de Penaguião!!!! O que terá acontecido aos primeiros 81 Km? Então, a EN 2 só começa em Santa Marta de Penaguião ?
Os troços que não constam na lista anterior ou foram despromovidos a E.Regional ou desclassificados passando a Estrada Municipal.
Meio século (56 anos) depois da idealização de uma espinha dorsal na rede rodoviária, esta estrada está no fosso do investimento governamental.
Nestas fotografias recolhidas do mapa das Infraestruturas de Portugal (Mar 2015) pode-se avaliar os estragos causados à EN 2:
Por comparação com a actualidade, a EN 2 inicialmente tinha 739,260Km, começando na rotunda em Chaves e terminando no Obelisco de Faro. Recentemente, foi decidido que teria 738,500Km contradizendo o PRN 2000 que refere começar em Santa Marta de Penaguião e não em Chaves, e com várias interrupções pelo meio terminando em Faro.
Seria importante que as entidade públicas com responsabilidade na matéria se decidissem.
Pensando bem, não seria descabido a extensão da EN 2 ter 739Km terminando onde sempre foi (por regra, as estradas nacionais começam e terminam noutras estradas nacionais, ex: EN 110 e EN 257).
Na relação de extensão com outras infraestruturas, a IC 1 tem 737 km e a IP 2 com 564 Km.
O que será no futuro a Estrada Nacional 2?
Tudo dependerá da vontade, em primeiro lugar, dos governos, do parco ou perspicaz empenhamento dos autarcas dos municípios por onde passa a EN 2, apesar da constituição da AMREN2, dos habitantes das localidades envolvidas na EN 2 e dos cidadãos que apreciam e defendem a EN 2 íntegra e preservada.
Podia-se finalizar esta história de variadíssimas formas mas julgamos que terminar como se começou parece-nos acertado porque espelha bem a sociedade actual “ no reinado de Dom …“…Fazemos saber a todos os nossos súbditos, que as côrtes geraes decretaram e nós queremos a Lei seguinte… ”.
Bem Hajam